Já não amanheceram sorrisos no rosto de Mónica. Desapareceu o sol do olhar de Alice. Esmoreceram as palavras na boca de Mariazinha. Estão tristes, as mulheres do Bolhão. Receiam ver a Alma do Porto – O seu mercado – transformado em centro comercial. Ainda assim, não desistem das gargalhadas, do amor oferecido aos bocados na passagem de cada cliente, da linguagem colorida feita de excessos. (…)
Não se calam. Nunca. Mas estão tristes, as mulheres do Bolhão!
Florista
“ (…) Vim para o Bolhão com três dias (…) Antigamente não tínhamos barracas. Vendíamos no chão. À sexta-feira e ao Sábado era tanta gente que andava tudo aos encontrões. Fazíamos muitas amizades. Éramos um por todos, todos por um. Estão aqui raparigas que hoje têm quarenta anos e vieram para cá com oito ou dez anos (…) Gosto muito disto, À segunda não venho, mas estou sempre ansiosa por vir. O bolhão para mim é tudo. Aqui cresci, aqui fui criada. Aqui envelheci. Se isto fechasse seria um grande desgosto. Já chorei muito por causa do que querem fazer (…)”
Maria da Conceição Santos (Mariazinha das Sócias), 67anos:
Vendedora de Legumes
“ (…) As pessoas sabem onde se vendem as coisas boas. Nos Natais é no Bolhão que procuram os bons grelos e o cabrito. Não vou tapar o sol com a peneira. (…) Tive dias muito felizes aqui. Eu dava mais para teatro do que para estar a vender. Sou mesmo do Bolhão. Sou uma rapariga do Norte. Somos muito para a frente e muito caralheiras. Agora o que me vale é o “Xanax”. (…) Antigamente ganhava-se tostões, mas com alegria. Agora anda tudo triste. Vim para cá no ventre da minha mãe. O bolhão sempre fez parte de mim (…) Não sei que futuro vaio ser o nosso. Ainda tenho genica para dar e vende. Nunca imaginei ver o Bolhão como esta agora (…)”
Andraína Sousa, 83 anos:
Vendedora de cereais:
“ (…) Estou aqui há 46 anos. O Bolhão já na altura era isto que se vê. Nunca teve obras. O estilo era o mesmo. Quando vim para cá era preciso ter duas ou três pessoas a servir os clientes. Por vezes nem tínhamos tempo para almoçar. Era um negócio que dava gosto. Aqui me governei e formei a minha filha. Nunca a pus a vender no Bolhão. Formou-se em História. (…) Não acredito que isto vá acabar. Ainda não fomos informados de nada pela câmara, que é o nosso senhorio. Temos casos de avós, filhas e netos a trabalhar no Bolhão. (…) “
Alice Ferreira, 57 anos:
Peixeira
Maria Fernando Sousa (Fernandinha), 75 anos:
Vendedora de Feijão:
“ Estou na barraca à 40 anos. Antes estava lá fora, á chuva e ao sol. Agora, se me tirarem isto, tiram-me a vida. Em Agosto parti um perna e pelo Natal já cá estava a trabalhar. O negócio da Fernandinha nunca fechou. As da frente abriam-me isto porque há aqui muitas amizades e gente muito séria. Comecei a vender à 62 anos. Eu não queria. Chorei, porque preferia ir para a fábrica. O povo do Porto andava comos olhos fechados. Vêm aqui muitos estrangeiros. Adoram isto. A minha cara deve andar por todo o lado. China, Inglaterra, sei lá. Às vezes mandam-nos fotos pelo correio (…) Sair do Bolhão é o meu maior desgosto (…) A minha filha diz que quando estou aqui nunca estou doente, em casa dói-me tudo”
Mónica Moreira, 31 anos:
Florista
A Olguinha, a Mariazinha, a Alice, a Andraína, a Fernandinha e a Mónica não cabem em espaços fechados…são mulheres com demasiada alma para serem colocadas numa espécie de vitrinas, onde se mostrará como era o mercado antigamente.
O Bolhão é nosso :
http://www.youtube.com/watch?v=gBPHkN2PxNk
Fonte : youtube.com
Outros vídeos sobre o movimento em :
Reunião, dia 11 de Março 2008 : http://sic.sapo.pt/online/scripts/2007/VideoPopup.aspx?videoId={33B33A7E-B8C9-4FAB-B5BC-A65C5EAD4BD0}
Apagão , dia 10 de Março 2008 :
http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?headline=98&visual=25&article=332292&tema=27
No passado dia 10 de Março tivemos o prazer e a satisfação de ser recebidas pelo arquitecto Joaquim Massena.
A primeira abordagem ao arquitecto, foi via e-mail, ao qual recebemos resposta breve; desse contacto surgiu o convite de visitarmos o seu Atelier para esclarecimento de algumas dúvidas sobre o seu projecto.
Fomos recebidas da melhor forma, com muita simpatia e atenção por parte de Joaquim Massena. Este, apoiante de todos os esforços dos estudantes, esclareceu-nos alguns pormenores importantes sobre o seu projecto; mostrou-nos plantas e alguns pontos do seu projecto.
No final da entrevista/ demonstração possibilitou-nos uma visita guiada pelo seu Atelier (situado na zona Histórica do Porto), provando que é possível alterar sem destruir património degradado.
Agradecemos a disponibilidade e todo o interesse depositado, assim como os vários contactos fornecidos, o material disponibilizado e algumas actividades do movimento Bolhão.
Agradecimentos também a: Diogo Massena
Objectivos dos Concursos lançados em 1992 e 2006
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Joaquim Massena
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TCN
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* Manter o Património e as suas estruturas compositoras e de acessibilidade; * Reequacionar os espaços perdidos;
* Acrescentar as infra-estruturas;
* Evitar, com a construção, que os comerciantes e os seus utilizadores perdessem o hábito de o utilizar;
* Respeitar as características arquitectónicas do espaço e manter a actividade comercial de venda de produtos frescos, previsto para o piso inferior designado por terrado, devendo ser mantida uma área equivalente ou superior à actualmente existente destinada a mercado tradicional.
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* Aprovado em 1998 pela Câmara; * Mantém, o Mercado como símbolo do Comercio Tradicional;
* Mantém, as características funcionais de Praça Aberta com abrigos pontuais em cada espaço;
* Mantém, a galeria existente para o sector de restauração alimentar, apelativa e representativa da gastronomia da Região com esplanada coberta e do meio restante a galeria daria apoio a um sector de comércio livre, não alimentar, onde nas paredes envolventes seriam colocados os painéis alegóricos;
* Acrescenta a galeria intermédia (por razões estruturais e de estabilização das paredes periféricas), para espaços comerciais, não alimentares, representativos da Região;
* Mantém, o Terrado (Praça) com a mesma composição funcional, recuperando todo o edificado, para a venda de produtos alimentares sazonais na zona central e na lateral para produtos alimentares perecíveis com exigência de rede de frio;
* Acrescenta, as infra-estruturas que serão realizadas de novo, tanto para as lojas do interior como para as do exterior do Mercado;
* Recupera, no exterior as caixilharias serão colocadas com igual desenho e execução às originais, com as devidas correcções e adaptações às exigências funcionais do Comércio (iguais à aplicada na Relojoaria Mendonça, a qual cumpriu o Projecto de Reabilitação);
* Retira, todos os equipamentos das fachadas; Acrescenta, elevadores e escadas rolantes para uma cómoda mobilidade dos Visitantes e Comerciantes; * Acrescenta, na galeria um painel pictórico alegórico às actividades; - agrícola, vinícola com especial referencia ao vinho do Porto, navegação e mercantilismo e à terciarização de uma forma geral;
* Acrescenta, a placa de identificação das respectivas actividades e de referencia à loja;
* Acrescenta, em cave e sub-cave, um parque de estacionamento para o visitantes e residentes e armazéns com câmara de frio para armazenamento dos produtos alimentares;
* Na altura o custo era de 12,5 milhões de euros, um valor que teria de ser hoje actualizado, até porque seria para ser construído em articulação com as obras do Metro do Porto;
* As obras demorariam dois anos.
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* Aprovada em Dezembro de 2007 * Novas lojas, habitação e restauração no antigo mercado tradicional;
* Manter a traça original e partilhar a área comercial tradicional com novas lojas, cerda de metade das quais de cultura, lazer e restauração;
* Construção de um supermercado;
* A actividade do comércio tradicional ficará numa escala mais reduzida;
* A zona destinada ao mercado de frescos ficará acomodada no segundo piso, contígua à futura praça de alimentação, com entrada pela Rua Fernandes Tomás;
* Os pisos zero e um, ambos cobertos, vão receber lojas «âncora» e de conveniência;
* Nos torreões do edifício, vão ser criadas pequenas habitações complementares ou serviços compatíveis, nomeadamente para utilização pelos comerciantes;
* O espaço ficará a céu aberto, havendo contudo uma cobertura amovível para proteger clientes e funcionários nos dias de chuva;
* O projecto também contempla a construção de dois pisos subterrâneos para cargas e descargas e estacionamento com capacidade para 216 automóveis;
* As obras demorarão 2 anos.
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- Fez um projecto de reabilitação para o mercado do Bolhão há 15 anos e que foi considerado de excelência. Hoje é apenas um projecto que foi feito. Porquê?
Eu compreendo a pergunta, mas a resposta só pode ser dada pelo actual presidente da Câmara do Porto, Rui Rio. Em todo o caso, classifico a atitude da Câmara como provinciana. Fernando Pessoa diz que o "nosso escol político não tem ideias sobre política e as que tem sobre política são servilmente plagiadas do estrangeiro, aceites não porque sejam boas, mas porque são francesas, ou russas, ou o que quer que seja". O poeta tem razão.
- Mas por que o projecto não avançou?
Não faço ideia [pausa]. Sei uma coisa o projecto foi objecto de um concurso público e distinguido. Mais ainda: o mercado do Bolhão foi classificado como patrimómio de interesse público. O edital 10/97 retira dúvidas.
- E existia sintonia entre o programa e a envolvente urbana ao Bolhão?
Sim, cheguei a participar numa reunião com a Metro do Porto e tudo ter ficado compatibilizado para a obra avançar. Há dois anos, quando a Câmara do Porto, tentou fechar o mercado fiz a entrega simbólica do projecto à cidade.
- Foi um acto de indignação?
Foi. Estamos a falar de um projecto pronto, pago [custou cerca de 12, 5 milhões] de euros] e votado ao desprezo.
- Como vê a decisão da Câmara do Porto?
Não quero adjectivar. A cidade já percebeu o acto bárbaro e vergonhoso que foi praticado contra um dos mais emblemáticos edifícios da cidade, construído durante a I Guerra Mundial. Agora, querem mudar radicalmente a sua face.
- Antevê o mercado do Bolhão transformado em mais um centro comercial no centro da cidade?
Sim, vamos ter mais um centro comercial. Não tenho dúvidas de que vão descaracterizar este edifício marcante da cidade. O perfil longitudinal aponta para a ocupação integral desde o rés-do-chão até às galerias. Vai ser tudo coberto e nada restará do passado. O interior será todo demolido para dar lugar a cobertura de lajes e betão armado.
- Portanto, só irá ficar a fachada para turista ver?
Exactamente.
- Estamos perante um atentado ao património?
Não tenho dúvidas.
Fonte: Jornal de Noticias
Nós estivemos lá!
Hoje dia 11 em frente ao RIVOLI, ás 18.00!
Amanhã, dia 11 de Março de 2008, vai ter lugar junto ao teatro municipal Rivoli da nossa cidade uma manifestação contra a demolição do Mercado do Bolhão. Juntos tentamos desta forma lutar pela preservação e reabilitação do Mercado, contrariando a sua demolição.
Junta-te a nós, pelas 18h00, nesta luta.
REABILITAÇÃO SIM ! DEMOLIÇÃO NÃO!
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